sábado, 16 de janeiro de 2010

Jornal Nova Guarda: Entrevista a Marco Loureiro

Jornal regional NOVA GUARDA
Marco Loureiro, presidente da Associação Académica da Guarda em entrevista


“Depois de dois anos de trabalho árduo, merecíamos um mandato calmo”


A um dia de ser reeleito presidente da Associação Académica da Guarda (AAG), Marco Loureiro, candidato único ao acto eleitoral de quinta-feira, dia 14, faz uma análise transversal aos assuntos da academia do Instituto Politécnico da Guarda (IPG). Considera que é hoje melhor presidente do que era quando tomou posse pela primeira vez, num sufrágio recheado de polémica, e anuncia que este será o seu último mandato à frente dos destinos da AAG. Contudo, deixa uma garantia aos estudantes: a associação vai ficar limpa de dívidas durante o ano de 2010.


Nova Guarda (NG) – Quais foram os motivos que o levaram a recandidatar-se à presidência da AAG?

Marco Loureiro (ML) – Esta candidatura veio ao encontro de um trabalho realizado ao longo de dois anos, e que consistiu, essencialmente, na limpeza da casa. Por isso, penso que tanto eu, como a minha equipa, merecíamos ter um mandato calmo, com a possibilidade de mostrarmos tudo aquilo que queremos, e que passa por sairmos um pouco daqui, do gabinete, já que nestes dois anos estivemos muito tempo cá fechados, concentrados em arranjar maneiras de pagar as contas. Foi em grande parte por este factor que não tivemos um contacto tão directo com o aluno e, por isso, este é um dos lemas desta campanha, e que visa apelar à participação mais activa junto dos estudantes.

NG – Porque é que o “Marcão” é presidente da AAG?

ML – Se calhar porque me evidenciei, e também porque tenho alguma paciência, que se calhar outros não teriam nesta situação, o que dá uma visão mais abrangente de todos os sectores. Actualmente, com 28 anos, tenho um percurso associativo bastante longo, desde os meus 14 anos que estou inserido no fenómeno, e sempre tive esse “bichinho” e é uma coisa que faço com muito prazer. Hoje o “Marcão” é muito mais calmo, porque aprendi a dialogar, e antes não via, muitas vezes, no diálogo a solução.

NG – Está iminente o seu terceiro mandado enquanto presidente da AAG. O que é que ainda falta fazer pela instituição dos estudantes do IPG?

ML – Temos a vontade de adquirir uma carrinha para a AAG, porque, actualmente, os carros que funcionam são os nossos. Esta deve ser das poucas academias que tem 21 anos de história e não possui um transporte próprio para as suas deslocações. Se adquirirmos uma viatura podemos combater diversas dificuldades, nomeadamente ao nível dos grupos desportivos e da própria instituição, que não raras vezes precisa de fazer deslocar oito ou nove pessoas.

NG – Outra das grandes prioridades para este mandato é devolver o bar académico Bacalhau aos estudantes. Como é que está planeado todo este processo?

ML – Vamos querer dinamizar o Bacalhau, até porque a experiência destes dois anos diz-nos que o próprio Bacalhau muda mediante vários factores. E um desses factores é a diferença que se nota nos caloiros que anualmente entram para o IPG. Como dirigentes, temos que nos adaptar às novas realidades, e àquilo que os novos caloiros querem. Posso garantir que este vai ser um ano de actividades diferentes e apelativas no Bacalhau e, para os quais, vamos solicitar participação de todos os alunos do IPG.

NG – Evoca muitas vezes as “experiência dos últimos anos”. Quer com isto dizer que se considera melhor presidente do que quando assumiu a presidência da AAG?

ML - Não tenho a menor dúvida que foi uma aprendizagem importantíssima, porque todo este processo me valoriza profissionalmente, quer a mim, quer aos restantes elementos que me tem acompanhado até hoje. E essa experiência tem-se notado na formação que tem vindo a ser desenvolvida nesta academia. Os mais velhos vão ensinando os mais novos, o que faz com que esses elementos hoje possam ser eleitos para lugares de destaque na Associação.

NG – Este é o seu último mandato?

ML – Sim, não tenho qualquer problema em admitir. Conseguimos entrar para a história por diversos aspectos, como eu ser o único presidente, até hoje, que não usa traje. Apesar de inicialmente ter sido um pouco complicado, tenho estado sempre ao lado dos alunos porque passo aqui [na sede] cerca de 12 horas por dia.

NG – Qual é a situação financeira da AAG?

ML – As contas, neste momento, estão bastante estáveis. Já pagámos cerca de 85% das dívidas, estamos a falar de 51 mil euros, faltando liquidar apenas oito mil euros.

NG – Como é que foi gerir este processo?

ML - Foi muito complicado. Mas tivemos connosco um tesoureiro exemplar, na pessoa do Márcio Moreira que vai continuar na Associação. A Academia vai ficar com as contas todas em ordem, e quem vier a seguir vai encontrar uma situação financeira desafogada para poder fazer o que entender.

NG – Estima que neste mandado as dívidas acabem?

ML – Sem dúvida que vão acabar. Tivemos um pequeno retrocesso, com uma dívida ao Hotel Turismo de cerca de 4100 euros, que não estava no nosso orçamento. Neste momento estamos em negociações com a Câmara Municipal da Guarda, porque actualmente temos uma ligação muito mais forte com a autarquia, que nos está a tentar resolver o problema.

NG – A semana académica é o evento mais aguardado pelos estudantes. Depois de nas duas últimas edições em que, apesar das contingências financeiras, a Associação conseguiu apresentar um cartaz de ‘luxo’, como é que lança a próxima semana académica?

ML – Foi um risco, mas também não avançamos sem determinados apoios. A verdade é que foi um risco calculado, as bandas foram escolhidas a dedo e, se me é permitido dizer, os estudantes da cidade da Guarda necessitavam de eventos como estes. Relativamente à próxima semana académica, parece-me que não vai ficar aquém da do ano passado, por isso as pessoas podem contar com uma grande festa. É importante salientar que, já foi aprovado, no IPG, três dias livres para que os alunos possam participar, e isso é importante porque esta é uma festa dos alunos, e sem eles não faz sentido.


“TIVE INTERVENÇÕES DEMASIADO RADICAIS PARA OS PADRÕES A QUE A CIDADE ESTAVA HABITUADA”

NG – Quando assumiu a presidência da Associação Académica da Guarda houve quem temesse pela continuidade das tradições estudantis. Como é que lidou com esta situação?

ML – Para acabar, de uma vez por todas, com as suspeições este ano o lema dos nossos cartazes será “Academia Sempre, para contrariar o receio das pessoas que temiam que se eu fosse eleito acabaria com todas as tradições e ia criar diversos conflitos”.

NG – Ainda sente esse estigma?

ML – Não, as pessoas já me conhecem, e até posso dizer que foi um caminho fácil. O mais difícil foi nós chegarmos a diversas instituições e não sabermos de determinados aspectos [dívidas].

NG – Para muitos o “Marcão” chegou a presidente da AAG porque no primeiro ano a lista do adversário não cumpriu os requisitos, e porque não teve oposição no ano seguinte. Acha que estes factos enfraquecem a sua liderança?

ML - Todo o processo que envolveu a primeira eleição foi um processo louca, com acusações, e onde o próprio IPG ficou reticente à minha eleição. Mas, nós voltámos a ficar na história porque nesse ano vencemos nas urnas, e uma semana depois voltamos a vencer numa das maiores assembleias-gerais de alunos, em que eles voltaram a dar-nos a vitória. Agora, também posso dizer que se fosse eu a estar do outro lado, dificilmente conseguiria fazer uma lista para competir com esta. Porque esta lista tem todos os quadrantes necessários para ter força.

NG – Porque é que acha que as pessoas ficaram com essa imagem?

ML – Eu acho que foi por eu ter chegado à Guarda e ter tido algumas intervenções radicais, tendo em conta os padrões que a cidade estava habituada. Enquanto estudante cheguei a matar, e ataquei muita boa coisa que achava que devia ter sido atacada em anos anteriores, e se calhar o Instituto não teria alguns dos problemas que tem hoje. Fui muito duro, mas tinha que ser assim.

NG – Contudo, também havia alunos que temiam que Marco, por ser militante activo de um partido político, politizasse a academia...

ML – Qualquer dirigente Associativo toma decisões de esquerda, ainda para mais quando está ligado ao Associativismo, nem que seja pelo simples facto de se poder juntar para o bem daqueles que representam. Por exemplo o dia natural do estudante é um evento de esquerda. As pessoas ficaram descansadas quando viram que a política está a ser bem empregue na AAG, quer a de esquerda, quer a de direita. Não somos a Rússia, porque temos um pouco de tudo, e é isso que nos torna mais fortes.

NG – Tendo em conta a conjuntura económica, a Associação tem recebido pedidos de alunos com dificuldades?

ML – Sem dúvida. Posso dizer que a Associação ofereceu cerca de 30 kits a estudantes para que eles pudessem alinhar na praxe. Acho que isso foi muito importante, porque permitimos que alguns alunos que não têm possibilidades se juntassem aos seus colegas na praxe.


Por: André Sousa Martins www.novaguarda.pt

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